Conselhos populares

Expresso aqui meu total apoio à posição da Convenção Batista Brasileira no sentido de condenar a criação dos chamados conselhos populares no Brasil, objetivo do Decreto 8243. Saiba o que representa essa iniciativa do governo federal a ser votada no Congresso Nacional.

Trata-se, para ir direto ao ponto, de pura e simples estratégia do partido no poder para estender à sociedade em geral o aparelhamento político a que já submeteu o Estado brasileiro, com os resultados catastróficos divulgados dia após dia pela mídia.

Traduzindo um pouco mais

O Partido dos Trabalhadores deseja ter em seu poder o controle total da sociedade e das instituições públicas e privadas que a representam e lhe dão voz. Começa que a coisa vem por decreto e não por projeto de lei. Ou seja, o atual governo quer impor ao Parlamento e ao país sua vontade ditatorial. Seus representantes, vários deles oriundos da luta armada, na qual o alvo maior era a troca da ditadura militar pela ditadura comunista, aprenderam a regra do jogo: se o mal (o decreto controlador) vem através do bem (o voto do Congresso), ele se legitima e pode e deve ser visto como um ato democrático. Ele só não é imposto através de mecanismos revolucionários diretos porque aventuras deste gênero estão fora de moda.

Não se deve esquecer que o sonho dourado do lulopetismo é "o controle social da mídia". A criação dos conselhos populares vai facilitar isso, o que significa, entre outras mazelas, que os veículos estarão impedidos inclusive de denunciar a roubalheira que grassa nos altos escalões da República. No caso, Mensalão torna-se "o modo brasileiro de fazer política!". Pilhagem da Petrobrás abriga-se sob a rubrica da "defesa dos interesses das classes populares". E por aí vai.

Tais conselhos são formados por "milicianos" que fazem o trabalho sujo que um governo constitucional não pode fazer. Não é "a sociedade civil", mas "os movimentos sociais". O nazismo e o stalinismo operavam de modo idêntico, através de seus tentáculos ideológicos e paramilitares.

O modelo venezuelano

Há uma série extensa de minas de destruição da liberdade e da democracia espalhadas no texto desse decreto. É preciso enxergar nas entrelinhas o ovo da serpente e destruí-lo antes que seja tarde. Basta olhar para a Venezuela, com sua caricatural revolução bolivariana. É nessa direção que a criação dos conselhos populares aponta. O modelo cubano e norte-coreano de "democracia popular" vem em seguida. E haja amordaçamento da imprensa, eleições de partido único e perseguição aos opositores. O terrorismo de feitio islâmico não está descartado, desde que sob a fachada de movimentos populares, organizados ou não. Pode abrigar-se qualquer projeto de destruição pela destruição que possa ser usado pelos donos do poder.

É preciso ser muito míope para não perceber o que está por trás da proposta de trocar a democracia representativa que temos pela democracia direta que se pretende. O povo entra na jogada como mera massa de manobra ou como mero recurso retórico. A expressão ditadura do proletariado só é real quanto ao primeiro de seus termos. Todas as verdadeiras democracias do mundo adotam o modelo representativo. Nas chamadas repúblicas populares, o povo só tem duas funções: obedecer e trabalhar. Liberdade é um luxo burguês e, segundo os ideólogos de plantão, contraria os interesses do povo.

Sugiro, para quem ainda não o fez, a leitura de A Revolução dos Bichos e 1984, de George Orwell. Para os que acham que a democracia direta é o caminho e que vai consertar inclusive anomalias midiáticas como o famigerado BBB da televisão, afirmo que é melhor termos essa baixaria importada dentro de nossas casas do que o Big Brother de verdade mobilizando seus conselhos populares para controlar nossas instituições, nossas decisões e nossas preferências.

Nossas vidas, em última análise.

* Macéias Nunes é Jornalista e Pastor batista

SOMA Notice / Nota da Soma

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