O Templo de Salomão da Igreja Universal e os lírios do campo de Jesus

Salomão é o ícone bíblico dos que entendem que prosperidade e riqueza são necessariamente sinônimas de bênção divina. O que não se leva em conta é que, em sendo assim, no caso do filho de Davi com Bateseba, essa bênção custou muito caro ao povo israelita, obrigado a pagar impostos extorsivos para custear o esbanjamento da corte.

Custou muito também aos estrangeiros explorados como escravos por Israel. Mão de obra barata é sempre uma grande tentação para quem, ao contrário do que profetiza Gênesis 3.19, ganha a vida com o suor do rosto alheio. Mais ainda: pela desastrada política levada a termo por Roboão, representou a própria derrocada do Reino Unido. Isso sem falar na política externa salomônica, muito pouco compatível com a propalada sabedoria homônima. Manter 700 mulheres e 300 concubinas, muitas delas princesas de reinos com quem Salomão mantinha alianças econômicas e militares, não é para qualquer um. No final, em nome dessas alianças, ele acabou tendo que prestar culto aos deuses dessas nações.

O rei Salomão

Figura notável como intelectual, administrador e diplomata, Salomão foi um desastre como um monarca que realmente estivesse interessado no bem estar de seus súditos. Suas prioridades eram sua própria pessoa e a manutenção da estrutura de poder que fazia dele um soberano internacionalmente admirado. Mal comparando, ele foi uma espécie de Dom Pedro II antigo, que, para legitimar ainda mais a comparação, também não conseguiu manter o reino. A pobre Princesa Isabel nem chance teve de comandar a transição entre o regime escravocrata que abolira e um terceiro reinado provavelmente mais justo e menos turbulento do que a República que se seguiu. Roboão, por seu turno, subiu ao trono aos trancos e barrancos, como um mandatário totalmente despreparado, e no primeiro teste mais duro que enfrentou, aconselhou-se mal, endureceu a política econômica equivocada do pai e perdeu, da noite para o dia, as dez tribos do norte, que constituíram o Reino de Israel.

Jesus e os lírios do campo

Quando comparou a glória de Salomão aos lírios do campo, Jesus fez a crítica implícita a esse estilo de vida majestoso, no sentido caricatural, adotado pelo herdeiro do trono de Davi. Em toda a sua glória – às custas do sacrifício do povo – Salomão não conseguiu chegar à perfeição, em termos de imagem e aparência, que uma simples flor já traz do berço, que não é de ouro, mas também não precisa ser. É a criação divina, em sua pureza, simplicidade e beleza. Em termos dessa perfeição natural, nenhuma criatura no universo criado, o homem incluído, cria coisa alguma. Como não existe o ser humano perfeito por natureza, também não existe a obra humana perfeita.

O Templo de Salomão da Universal

Os construtores do já famoso Templo de Salomão da Igreja Universal em São Paulo, cuja grandiosidade não se pode negar, posto que construído com o suado salário do órfão e da viúva, deveriam estudar melhor a vida do rei que dá nome ao edifício. Ele não foi um exemplo de homem justo com seu povo e fiel a seu Deus. Foi um político auto-referenciado, indiferente às demandas reais da população. Não soube encaminhar a transição do trono, deixando de preparar seu filho para os novos tempos. Deixou-se levar pela politicagem da corte e pelos compromissos com seus aliados, desviando-se, por isso, dos retos caminhos do Senhor e mergulhando na idolatria.

E o Templo de Salomão, sua obra mais imponente, acabou destruído pelos babilônios. Enquanto isso, os lírios do campo continuam a vestir-se, séculos afora, com a mesma glória que o Criador lhes concedeu.

* Macéias Nunes é Jornalista

Atualizada: Quarta, 18 Abril 2018 11:13