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Razões para orar e agir pelos migrantes, refugiados, deslocados e exilados

Cresce no mundo o desafio de saber como reagir ao grande número de pessoas que saem dos seus países por causa de guerra ou situação política insustentável. Temos como exemplo os povos do norte da África e Oriente Médios indo para a Europa, principalmente a Itália, e os haitianos e venezuelanos que chegam no Acre e Roraima, respectivamente.

Neste artigo vamos começar uma busca de respostas para perguntas como: O que incluir na oração pelos migrantes? Como fazer para ajudar e acolher refugiados? Por onde o cristão pode começar a se envolver na busca de amenizar os problemas decorrentes dos movimentos migratórios? Qual o papel da Igreja nesta importante questão do mundo moderno, que afeta a vida de tantos indivíduos e famílias?

"Depois disso olhei, e diante de mim estava uma grande multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, de pé, diante do trono e do Cordeiro, com vestes brancas e segurando palmas. E clamavam em alta voz: "A salvação pertence ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro". - Apocalipse 7:9-10.

Aumenta o número de iraquianos fugindo para a Jordânia e Turquia. Os curdos sírios na Turquia já passam de 140 mil, acumulando necessidades humanitárias evidentes que precisam de uma resposta mundial. O sofrimento continua entre os deslocados da Ucrânia, apesar do cessar-fogo do conflito com a Rússia. Refugiados no norte do Congo tentam esquecer da dor praticando capoeira.

As notícias envolvendo milhares de refugiados e deslocados não param de chegar todos os dias no noticiário internacional de nossas televisões e na internet. O fenômeno atinge países de todos os continentes, seja pelo movimento de imigração, seja pela emigração. São pessoas que perdem seu lugar seguro, suas casas, suas histórias de vida, de um dia para o outro, e são jogadas numa situação de extrema vulnerabilidade, com toda a sua família. Quadrilhas do mal se aproveitam deste momento frágil dessas pessoas para impor o terrível e criminoso tráfico de seres humanos e outras formas de violência, opressão e escravidão.

 

O que devemos fazer pelo refugiado?

O problema dos refugiados e migrantes é mundial e muito grave. Deve ser dado reconhecimento ao fato de a Igreja Católica preocupar-se tanto com o tema, a ponto de estar em seu calendário anual. Não se tem notícia da mesma ênfase entre evangélicos (se você conhece algo do envolvimento evangélico diretamente com esta questão, escreva abaixo nos comentários deste post). O mais recente documento do Vaticano a respeito, dentre muitos que foram divulgados, diz, com óbvia razão, que devemos cuidar dos "mais frágeis da Terra. Mas, no modelo "do êxito" e "individualista" em vigor, parece que não faz sentido investir para que os lentos, fracos ou menos dotados possam também singrar na vida".

Anualmente, cresce o número de pessoas que deixam suas cidades ou países numa arriscada viagem em busca de melhores condições de vida. Tais movimentos migratórios geram sentimentos negativos naqueles que moram nas cidades e países de destino. Suspeitas, preconceitos, desconfiança e até hostilidade fazem sofrer ainda mais aquelas pessoas perseguidas ou oriundas de situação de miséria extrema. Nada mais distante do conceito bíblico de acolher o estrangeiro necessitado, o órfão e a viúva.

Na Bíblia, em Deuteronômio 10:17-18 lemos: "Pois o Senhor vosso Deus é o Deus dos deuses, e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita recompensas; Que faz justiça ao órfão e à viúva, e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e roupa."

E, em 24:17-21 do mesmo livro bíblico, está escrito: "Não perverterás o direito do estrangeiro e do órfão; nem tomarás em penhor a roupa da viúva... Quando no teu campo colheres a tua colheita, e esqueceres um molho no campo, não tornarás a tomá-lo; para o estrangeiro, para o órfão, e para a viúva será; para que o Senhor teu Deus te abençoe em toda a obra das tuas mãos. Quando sacudires a tua oliveira, não voltarás para colher o fruto dos ramos; para o estrangeiro, para o órfão, e para a viúva será. Quando vindimares a tua vinha, não voltarás para rebuscá-la; para o estrangeiro, para o órfão, e para a viúva será."

Ninguém deve ser considerado inútil, intruso ou descartável. Ao contrário, que prevaleça a justiça e o amor, o acolhimento e a generosidade. É preciso trabalhar para "humanizar as condições dos migrantes" e, ao mesmo tempo, criar condições para diminuir as "razões que impelem populações inteiras a deixar a sua terra natal devido a guerras e carestias".

 

Perceber, orar e cuidar dos migrantes

Somos chamados por Cristo, através de suas palavras e exemplo, para cuidar, também e de forma especial, da fragilidade humana evidente, dos mais vulneráveis e dos marginalizados que sofrem intensamente, inclusive dos exilados e refugiados. Cumpre-nos entender que nem todos foram dotados com recursos e condições adequadas, e que são poucos e raros os bonitos casos de superação pessoal. A maioria cresce, vive e morre na mesma situação de vulnerabilidade em que nasceu, ou onde teve que entrar para escapar de piores condições de vida e perigos de todo tipo, inclusive risco de vida.

Nas palavras de Jesus, fazer aos pequeninos é o mesmo que fazer a Ele:

"...quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes" (Mateus 25.40).

 

Reconhecer o rosto de sofrimento das vítimas das novas formas de pobreza e escravidão

O documento do Vaticano - "Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado 2015: Igreja sem fronteiras, mãe de todos" - afirma, e todos os cristãos devemos atentar para tal declaração: "É indispensável prestar atenção e debruçar-nos sobre as novas formas de pobreza e fragilidade, nas quais somos chamados a reconhecer Cristo sofredor: os sem abrigo, os toxicodependentes, os refugiados, os povos indígenas, os idosos cada vez mais sós e abandonados, etc".

Ao governo e ao povo dos países que costumam ser destino dos migrantes e refugiados, o papa propõe "uma abertura generosa, que, em vez de temer a destruição da identidade local, seja capaz de criar novas sínteses culturais".

Diz que são belas "as cidades que superam a desconfiança doentia e integram os que são diferentes, fazendo desta integração um novo factor de progresso"!

E que são encantadoras "as cidades que, já no seu projeto arquitetônico, estão cheias de espaços que unem, relacionam, favorecem o reconhecimento do outro"!

 

Acolha migrantes e refugiados

Um demonstração fundamental desta disposição da multiplicidade da graça de Deus de interagir com vários povos e línguas, dando-nos exemplo, é o relato do Dia de Pentecostes.

Em Atos 2.1-11, ficamos sabendo que, após a descida do Espírito Santo, uma das coisas que aconteceu foi que aquilo que os apóstolos diziam em seu próprio idioma foi entendido pela audiência, composta por pessoas de dezenas de povos diferentes, na língua materna de cada um. Ore, acolha com carinho e seja generoso com migrantes e refugiados em sua cidade ou país.

* Lenildo Medeiros é pastor e jornalista da Agência Soma.
Atualizada: Quarta, 06 Setembro 2023 08:39